
Quando éramos crianças, nossos pais, tios, avós e outras pessoas "mais velhas" nos contavam histórias mirabolantes, fantasiosas e assustadoras.
Muitas destas histórias relatavam personagens espetaculares e criaturas bizarras.
Anos mais tarde, quando irrompemos as barreiras hormonais da puberdade, entre a roda de amigos surgiram outras histórias, igualmente fantasiosas e mirabolantes. Diferentemente daquelas que ouvíamos quando crianças, estas últimas eram mais ligadas à realidade, criando personagens igualmente bizarros, porém nada de maravilhoso e sobrenatural. Estes tipos de "contos", ou melhor, boatos, acompanharam-nos adolescência afora, adentrando até mesmo na idade adulta. Estas histórias são comumente chamadas de "lendas urbanas".
Na adolescência, meu irmão, meus amigos e eu, costumávamos tomar banho em rios e em uma espécie de represa que havia atrás da escola onde estudávamos. Esta represa pertencia a uma grande empresa da cidade. Localizava-se em meio à floresta, cercada com arame farpado e uma placa avisando que aquela propriedade pertencia àquela empresa. Aquele local era cercado de histórias e relatos nem um pouco confiáveis.
Por se tratar de um local em meio à floresta, de pouco movimento, era comum encontrarmos usuários de drogas naqueles locais. Tratávamos, obviamente, de fugir dali, pois alguns deles tentavam até mesmo roubar roupas e outros objetos de valor (embora o maior objeto de valor que usávamos era um par de havaianas, pois andávamos somente de bermuda e chinelos, devido ao calor).
Havia uma lenda que dizia que, freqüentemente, uma viatura policial (conhecida por "camburão") ia até o local para pegar os adolescentes que lá se refrescavam no verão. Os policiais levavam os jovens para uma delegacia, raspavam suas cabeças e passavam óleo queimado, a fim de evitar que os cabelos voltassem a crescer. Isto enchia de pânico os jovens da época.
O medo maior não era da polícia em si, mas sim de nossos pais, que teriam um acesso de ira quando descobrissem que seus filhos nunca mais teriam cabelos novamente.
Obviamente nunca conhecemos algum jovem que tenha passado pela tortura de ter suas madeixas raspadas e banhadas com óleo quente.
Após muitos anos a tal represa foi esvaziada e a diversão das tardes de sábado teve seu fim.
Graças a isto, meu irmão, meus amigos e eu somos gratos por termos fartos cachos de cabelos até os dias de hoje.